A revolução causada por Jimi Hendrix rendeu inúmeros adeptos que influenciados por suas criações resolveram seguir o sonho de ser uma estrela do Rock, e se tornar também uma referência. Esse sectarismo deu início à uma explosão de jovens que extasiados com suas apresentações e seu estilo começaram a se aventurar no mundo do Rock, porém não bastava apenas vontade para se destacar. Em 1966, numa apresentação em Ottawa, estava na platéia um jovem canadense de doze anos que foi tomado pela grandeza de Hendrix, e se determinou dali em diante a dedicar sua vida à música.
Patrick Henry Travers rapidamente começou a dar seus primeiros passos com bandas amadoras, e depois de uma curta experiência caindo na estrada com o roqueiro Ronnie Hawkins, praticando Rockabilly, se sentiu confiante e resolveu seguir seu sonho de ter seu próprio grupo, e aos vinte anos viajou com alguns amigos à Londres, também acompanhado de uma guitarra, um amplificador Marshall e um pedal wha-wha. Foram necessárias poucas horas de estúdio para Pat Travers gravar sua demo que causou um imediato interesse pela Polydor Records, e no mesmo ano já tinha o seu debut lançado. Completava sua banda, o já experiente baixista Peter Cowling, que segundo Travers, era sua fonte de inspiração, além do batera Roy Dyke que logo deu lugar à ninguém menos que Nicko McBrain.
Nos seus shows, Travers além de executar as músicas com bastante energia, deixava transparecer ser um cara bem simples, que interagia de forma descontraída com o público, distribuindo réplicas de papelão de sua guitarra e pedindo para que as pessoas fizessem air-guitar no palco, o público viu nisso um ídolo acessível, coisa que era utópica até então, o que fez a popularidade de Travers crescer rapidamente, de tal forma que o possibilitou, em 1977, ano seguinte ao lançamento do seu primeiro play, gravar o debut solo do gênio Glenn Hughes. E no mesmo ano lançou mais dois discos com sua banda, o primeiro a ser lançado em 77 foi o seu clássico absoluto, e disparado o melhor trabalho de sua carreira, "Makin' Magic", trazendo a participação do mestre Glenn Hughes, o guitarrista Brian Robertson (Thin Lizzy, Motörhead) e o ex batera, Roy Dyke.
Apresentando um Hard Rock com fortes influências de Blues Rock e o mais puro Rock 'n Roll, "Makin' Magic" como o próprio título sugere, traz Pat Travers fazendo mágica, cantando e tocando de forma extraordinária, e com uma inspiração que infelizmente nunca mais iria repetir. Travers também compôs sozinho todas as músicas, com exceção da releitura do clássico primitivo do Blues, "Statesboro Blues", gravada originalmente em 1928 por Willie McTell, e que aqui foi completamente revitalizada, com uma pegada matadora e duelos de solos a cargo de Pat Travers e Brian Robertson comendo a música inteira, e com aquele ar de som ao-vivo, o que é uma das características mais valiosas desse disco. O feeling e a energia de gravação ao-vivo que é passada não deixa dúvida que muita coisa registrada aqui foi gravada em único take. O que é muito comum no Blues Rock.
Além de Travers arrepiar o disco inteiro, a "cozinha" mata a pau, com Nicko McBrain tocando em um estilo totalmente diferente do que o conhecido através do Iron Maiden, cheio de mudanças de tempo, rufadas e viradas brutas, que podem ser constatadas principalmente em "Need Love" e "Hooked On Music", ambas bem funkeadas e cheias de improvisações. E a atitude de Travers de pedir ao público para fazer air-guitar é totalmente desnecessária, pois é impossível escutar os solos dos hinos "Rock And Roll Susie" e "You Don't Love Me" sem fazer involuntariamente as famosas air-guitars. Com o espírito e espontaneidade do Blues Rock, os solos surgem durante toda a execução das músicas, e as bases de guitarra são tocadas com constantes improvisos.
Apesar dos sons energéticos ditarem o ritmo do álbum, é na balada "Stevie" que se encontra o clímax de "Makin' Magic". O começo meio psicodélico com guitarras e sintetizadores alucinógenos passa uma atmosfera angustiante, seguidas de uma das melhores atuações de Pat Travers, que escreveu a letra dessa música como um conselho ao seu irmão. E nada mais ideal pra complementar essa música cheia de sentimento do que a participação de Glenn Hughes fazendo backing vocals, o que torna essa canção ainda mais monumental, logo em uma área que Hughes domina como ninguém e é um terreno preparado sob medida pra esparramar todo seu feeling. E uma curiosidade é que os sintetizadores são usados só no início de "Stevie", os efeitos que surgem durante a música são provenientes da guitarra. O instrumental "What You Mean To Me" fecha o disco com tom de despedida, evidenciando as linhas de baixo de Peter Cowling, uma levada conduzida por guitarra acústica e fechando com um solo matador de Pat Travers.
Embora o mundo do Rock esteja cheio de injustiças, esse não é o caso aqui. Travers jamais deveria ser colocado ao lado de outros gênios da década de 70 porque não conseguiu manter o primor de "Makin' Magic" em seus discos posteriores. Não que tenha entrado em decadência depois daqui, pelo contrário, pois seu grande momento ainda estaria por vir com o lançamento do ao-vivo "Live! Go for What You Know" em 1979, que o tornou muito conhecido na época, lhe possibilitando sair em turnê como co-headliner em 1981 junto ao Rainbow, o que foi certamente o ápice de sua carreira.
Porém essa sonoridade apresentada aqui foi desenvolvida com um claro apelo comercial nos álbuns seguintes, embora ainda tenha conseguido emplacar alguns clássicos como "Snortin' Whiskey", "Go All Night" e "My Life is on the Line". No entanto, Travers conseguiu criar uma boa reputação, tanto que é muito admirado por guitarristas como Kirk Hammett (que o citou como uma de suas principais influências) e Alex Lifeson. E ultimamente tá bem ativo, participou de um disco do Glenn Hughes em 2001, gravou um álbum em parceria com Carmine Appice em 2004, e vem fazendo muitos shows. "Makin' Magic" é um momento único de sua carreira e um clássico incontestável do Hard setentista.
01 - Makin' Magic
02 - Rock And Roll Susie
03 - You Don't Love Me
04 - Stevie
05 - Statesboro Blues
06 - Need Love
07 - Hooked On Music
08 - What You Mean To Me
Pat Travers - vocal/guitar
Peter Cowling - bass
Nicko McBrain - drums
Glenn Hughes: Backing Vocals on "Stevie"
Brian Robertson: Guitar on "Statesboro Blues"
Roy Dyke: Drums on "Statesboro Blues"
Peter Solley: Organ, Keyboards, Arp Synthesiser & Piano on "You Don't Love Me", "Stevie", "What You Mean To Me"
http://www.mediafire.com/?fn7plp1jh059v45
ResponderExcluirsua resenha aguçou minha curiosidade em conhecer a obra do gente fina..
ResponderExcluirjá conhecia ele de nome, mas acho q nunca ouvi uma musica dele..
agora isso muda..
valeu..
resenha rlz!
ResponderExcluirrlz também o esquema dos air-guitar, ri cachoeiras aqui! xD