Nunca gostei de Green Day. Suas músicas de no máximo três minutos e que só falam de coisas relacionadas a adolescentes e suas baboseiras nunca me chamaram a atenção, e por mais que muitos dos meus amigos gostassem, eu não via muita graça. Assim como com algumas outras bandas da década de 90 adeptas desse estilo, achava o som tosco e sem muito a oferecer, principalmente em suas letras.
Certo dia, estava lendo notícias sobre rock na internet em 2004 e me lembro de ler que o próximo lançamento seria uma ópera rock. “Como assim? Uma ópera rock?”, lembro que pensei na época em que li isso. Confesso aqui que sou fã de óperas rock e lembro que este fato me fez ficar louco para ter esse álbum. Imaginei como seria uma ópera rock feita por uma banda pop punk. Paguei ricos 45 dinheiros (sic) na pré-venda de um site (como cd é caro no Brasil!) e fiquei ansioso, esperando um mês para chegar e ver como seria este álbum.
Quando coloquei a faixa título para rodar em meu som me assustei, uma baita crítica ao povo americano logo de cara, falando que não queria fazer parte dos esquemas políticos existentes e que repugnavam aquilo: “Não quero ser um idiota americano, Não quero uma nação escravizada por uma nova mídia”. Uma crítica social é rara nos dias de hoje, e ao fazerem isso lembraram os velhos tempos do punk, em que The Clash e Dead Kennedys faziam isso de maneira magistral. Pontos ganhos já na primeira música.
Na próxima começa a história, em “Jesus of Suburbia” com seus nove minutos, onde o personagem principal nos é apresentado e é mostrada a alienação do mesmo para com o mundo em que vive, e sobre o estado em que se encontra. As duas melhores partes são “I Don’t Care” e “Tales of Another Broken Home” onde na primeira ele mostra que pouco se importa com a situação que vê a seu redor e na segunda ele se decide sair do estado miserável em que está e dar uma reviravolta total em sua vida: “Viver, e não respirar, É morrer, em tragédia, Correr, fugir para encontrar aquilo que acreditamos”. Os nove minutos de música parecem ser poucos de tão bons e a atuação da banda está perfeita, com variações significativas para o acompanhamento da história contada. Acho que Billie Joe e seus comparsas passaram horas ouvindo The Who, e a lição de casa foi muito bem feita por sinal.
“Holiday” é um hino punk, lembrando o saudoso Clash, tudo muito bem feito mais uma vez e eu estarrecido no sofá de minha casa escutando a história do personagem, concluindo que a fuga foi a melhor saída para a situação em que o mesmo se encontrava. “Boulevard Of Broken Dreams” é uma balada melancólica, com melodia bem construída, algo que também estava muito fora de tudo que havia sido feito antes pelos rapazes da Califórnia, com o personagem principal vagando sozinho e vendo que ninguém dava a mínima pela situação que o mesmo passava naquele momento, longe de casa e só pelas ruas. Não sei porque, mas me lembro da fase brit-pop dos anos 90 ao escutar essa faixa.
“Are We The Waiting” é mais uma balada, essa que lembra as que eram feitas nos anos 80, com seu andamento calmo e com as vocalizações ao fundo, mas que foi feita para ser acompanhada com os pulmões cheios e seu refrão grudento. Em “St. Jimmy” vemos a banda praticando aquilo que fazia antes desse álbum, mas de maneira muito mais agressiva e se encaixando perfeitamente na história, onde o personagem conhece o punk St. Jimmy, que vai ser o responsável por alguns percalços do personagem durante a história.
Em “Give Me Novacaine”, é retratado o vício em drogas no qual o personagem se enfia devido a má influência, e se tornando uma via de escape para a solidão e os problemas que o mesmo passa até a mudança para a cidade grande. A punk “She’s a Rebel” nos apresenta uma nova personagem, nomeada de Whatsername, que desperta a paixão de Jesus of Suburbia. A surpreendente “Extraordinary Girl” nos remete aos Beatles em seu experimentalismo e arranjos, com direito a cítaras na canção, em mais uma demonstração clara da evolução da banda e da mudança radical que houve para este disco.
“Letterbomb” volta novamente a velha fórmula do Green Day, que não é de muito meu agrado, mas que é uma parte essencial da história, onde Whatsername abandona Jesus e se vai, e a letra serve como uma carta de despedida dela para ele, onde a mesma ainda tenta acordar para a vida que ele está levando. “Wake Me Up When Setember Ends” é a mais bela das baladas desse cd, com sua letra triste, onde nos mostra como o personagem se encontra afundado na tristeza novamente, sem amigos ao seu lado, na solidão novamente e após a perca de sua amada e de como ele voltou ao sofrimento do qual ele desejava fugir de quando se mudou de sua antiga cidade: “Encharcado na minha dor novamente, Tornando-se quem nós somos”. Bela canção, com certeza algo que eles nem pensariam fazer em seu início, e mostra como o amadurecimento é ótimo para algumas bandas.
Em seguida vem o segundo épico deste álbum e na opinião dos que vos escreve, a melhor música do registro, a épica “Homecoming” com mais de nove minutos, e cheio de conclusões, onde ele primeiramente deixa as ruas e se separa da influência de St. Jimmy, arranja um emprego e decide voltar para casa. A grandeza dessa canção é indescritível, principalmente na terceira parte, onde mais uma vez vemos a influência dos Beatles neste disco e toda a perfeição ao se concluir a história da volta pra casa de Jesus Of Suburbia de maneira apoteótica. E o final da canção é apoteótico também, uma maravilhosa conclusão para a história, mostrando que nem sempre a fuga dos problemas é a solução para estes.
E finalizando este disco, temos a power pop e triste “Whatsername” que mostra que agora ele quer apagar sua antiga amada de sua memória e usar o que aprendeu do passado como lição para sua vida. Um álbum que mostra que é possível arriscar e acertar em cheio em novo direcionamento para o som de uma banda. Ponto para o Green Day por ter gerado o registro mais expressivo desta década, com sua 14 milhões de cópias vendidas em todo mundo. Belo número para uma época em que a indústria musical da maneira que conhecemos está praticamente morta, mostrando que é possível se vender muito, mas desde que se faça algo com qualidade, o que infelizmente é raro nos tempos em que vivemos.
01.American Idiot
02.Jesus of Suburbia
* I. Jesus of Suburbia
* II. City of the Damned
* III. I Don't Care
* IV. Dearly Beloved
* V. Tales of Another Broken Home
03.Holiday
04.Boulevard of Broken Dreams
05.Are We The Waiting
06.St. Jimmy
07.Give Me Novacaine
08.She's A Rebel
09.Extraordinary Girl
10.Letterbomb
11.Wake Me Up When September Ends
12.Homecoming
* I. The Death of St. Jimmy
* II. East 12th St.
* III. Nobody Likes You
* IV. Rock and Roll Girlfriend
* V. We're Coming Home Again
13.Whatsername
Billie Joe Armstrong: Vocais e guitarra
Mike Dirnt: Baixo
Tre Cool: Bateria
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By Weschap Coverdale
Certo dia, estava lendo notícias sobre rock na internet em 2004 e me lembro de ler que o próximo lançamento seria uma ópera rock. “Como assim? Uma ópera rock?”, lembro que pensei na época em que li isso. Confesso aqui que sou fã de óperas rock e lembro que este fato me fez ficar louco para ter esse álbum. Imaginei como seria uma ópera rock feita por uma banda pop punk. Paguei ricos 45 dinheiros (sic) na pré-venda de um site (como cd é caro no Brasil!) e fiquei ansioso, esperando um mês para chegar e ver como seria este álbum.
Quando coloquei a faixa título para rodar em meu som me assustei, uma baita crítica ao povo americano logo de cara, falando que não queria fazer parte dos esquemas políticos existentes e que repugnavam aquilo: “Não quero ser um idiota americano, Não quero uma nação escravizada por uma nova mídia”. Uma crítica social é rara nos dias de hoje, e ao fazerem isso lembraram os velhos tempos do punk, em que The Clash e Dead Kennedys faziam isso de maneira magistral. Pontos ganhos já na primeira música.
Na próxima começa a história, em “Jesus of Suburbia” com seus nove minutos, onde o personagem principal nos é apresentado e é mostrada a alienação do mesmo para com o mundo em que vive, e sobre o estado em que se encontra. As duas melhores partes são “I Don’t Care” e “Tales of Another Broken Home” onde na primeira ele mostra que pouco se importa com a situação que vê a seu redor e na segunda ele se decide sair do estado miserável em que está e dar uma reviravolta total em sua vida: “Viver, e não respirar, É morrer, em tragédia, Correr, fugir para encontrar aquilo que acreditamos”. Os nove minutos de música parecem ser poucos de tão bons e a atuação da banda está perfeita, com variações significativas para o acompanhamento da história contada. Acho que Billie Joe e seus comparsas passaram horas ouvindo The Who, e a lição de casa foi muito bem feita por sinal.
“Holiday” é um hino punk, lembrando o saudoso Clash, tudo muito bem feito mais uma vez e eu estarrecido no sofá de minha casa escutando a história do personagem, concluindo que a fuga foi a melhor saída para a situação em que o mesmo se encontrava. “Boulevard Of Broken Dreams” é uma balada melancólica, com melodia bem construída, algo que também estava muito fora de tudo que havia sido feito antes pelos rapazes da Califórnia, com o personagem principal vagando sozinho e vendo que ninguém dava a mínima pela situação que o mesmo passava naquele momento, longe de casa e só pelas ruas. Não sei porque, mas me lembro da fase brit-pop dos anos 90 ao escutar essa faixa.
“Are We The Waiting” é mais uma balada, essa que lembra as que eram feitas nos anos 80, com seu andamento calmo e com as vocalizações ao fundo, mas que foi feita para ser acompanhada com os pulmões cheios e seu refrão grudento. Em “St. Jimmy” vemos a banda praticando aquilo que fazia antes desse álbum, mas de maneira muito mais agressiva e se encaixando perfeitamente na história, onde o personagem conhece o punk St. Jimmy, que vai ser o responsável por alguns percalços do personagem durante a história.
Em “Give Me Novacaine”, é retratado o vício em drogas no qual o personagem se enfia devido a má influência, e se tornando uma via de escape para a solidão e os problemas que o mesmo passa até a mudança para a cidade grande. A punk “She’s a Rebel” nos apresenta uma nova personagem, nomeada de Whatsername, que desperta a paixão de Jesus of Suburbia. A surpreendente “Extraordinary Girl” nos remete aos Beatles em seu experimentalismo e arranjos, com direito a cítaras na canção, em mais uma demonstração clara da evolução da banda e da mudança radical que houve para este disco.
“Letterbomb” volta novamente a velha fórmula do Green Day, que não é de muito meu agrado, mas que é uma parte essencial da história, onde Whatsername abandona Jesus e se vai, e a letra serve como uma carta de despedida dela para ele, onde a mesma ainda tenta acordar para a vida que ele está levando. “Wake Me Up When Setember Ends” é a mais bela das baladas desse cd, com sua letra triste, onde nos mostra como o personagem se encontra afundado na tristeza novamente, sem amigos ao seu lado, na solidão novamente e após a perca de sua amada e de como ele voltou ao sofrimento do qual ele desejava fugir de quando se mudou de sua antiga cidade: “Encharcado na minha dor novamente, Tornando-se quem nós somos”. Bela canção, com certeza algo que eles nem pensariam fazer em seu início, e mostra como o amadurecimento é ótimo para algumas bandas.
Em seguida vem o segundo épico deste álbum e na opinião dos que vos escreve, a melhor música do registro, a épica “Homecoming” com mais de nove minutos, e cheio de conclusões, onde ele primeiramente deixa as ruas e se separa da influência de St. Jimmy, arranja um emprego e decide voltar para casa. A grandeza dessa canção é indescritível, principalmente na terceira parte, onde mais uma vez vemos a influência dos Beatles neste disco e toda a perfeição ao se concluir a história da volta pra casa de Jesus Of Suburbia de maneira apoteótica. E o final da canção é apoteótico também, uma maravilhosa conclusão para a história, mostrando que nem sempre a fuga dos problemas é a solução para estes.
E finalizando este disco, temos a power pop e triste “Whatsername” que mostra que agora ele quer apagar sua antiga amada de sua memória e usar o que aprendeu do passado como lição para sua vida. Um álbum que mostra que é possível arriscar e acertar em cheio em novo direcionamento para o som de uma banda. Ponto para o Green Day por ter gerado o registro mais expressivo desta década, com sua 14 milhões de cópias vendidas em todo mundo. Belo número para uma época em que a indústria musical da maneira que conhecemos está praticamente morta, mostrando que é possível se vender muito, mas desde que se faça algo com qualidade, o que infelizmente é raro nos tempos em que vivemos.
01.American Idiot
02.Jesus of Suburbia
* I. Jesus of Suburbia
* II. City of the Damned
* III. I Don't Care
* IV. Dearly Beloved
* V. Tales of Another Broken Home
03.Holiday
04.Boulevard of Broken Dreams
05.Are We The Waiting
06.St. Jimmy
07.Give Me Novacaine
08.She's A Rebel
09.Extraordinary Girl
10.Letterbomb
11.Wake Me Up When September Ends
12.Homecoming
* I. The Death of St. Jimmy
* II. East 12th St.
* III. Nobody Likes You
* IV. Rock and Roll Girlfriend
* V. We're Coming Home Again
13.Whatsername
Billie Joe Armstrong: Vocais e guitarra
Mike Dirnt: Baixo
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By Weschap Coverdale
3 comentários:
http://www.multiupload.com/3I6524JIJP
Nossa parabens, nunca pensei que ia
ver um post do Green Day aqui
parabens.
Prefiro o Green Day dos tempos de "Dookie" aos trabalhos conceituais pseudo-sisudos.
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